Judiciário ocupa vazio deixado pelo Congresso
Diante da inoperância de parlamentares, magistrados legislamA inércia do Legislativo para regulamentar importantes pautas políticas tem levado o Judiciário se posicionar sobre temas pertinentes ao Congresso.Nos últimos três anos, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiram sobre pelo menos seis assuntos abandonados no vácuo parlamentar. Decisões como a que determinou na última semana a aplicação da Lei de Greve do setor privado aos servidores públicos têm provocado a ira de deputados e senadores. Parlamentares enxergam uma invasão da competência do Legislativo na iniciativa. Para o deputado Beto Albuquerque (PSB), não é papel do STF fazer leis por interpretação. - Acho perigoso o caminho de se judicializar a política, porque uma hora poderemos ficar perplexos com o que a Justiça pode fazer. Qualquer ditadura é perigosa, inclusive a do Judiciário - avalia.Professor de Direito Constitucional da UFRGS, Eduardo Carrion discorda das críticas dos parlamentares. De acordo com Carrion, o Judiciário só tem se manifestado em matérias em que há falha e omissão do Legislativo:- Não se pode dizer que o Judiciário esteja legislando. O Supremo e o TSE dão concretude à Constituição.Antecipando-se a possíveis omissões do parlamento, a Constituição de 1988 previu mecanismos que atribuíram ao Judiciário competência para dar conta de direitos ainda não regulamentados em lei pelo Legislativo. O instrumento é uma tendência do direito, inspirada na corte constitucional da Alemanha dos anos 60.A polêmica em torno do limite das atribuições do Judiciário é antiga. Já no século 19, parlamentares questionavam se a Justiça tinha legitimidade de suprir a ausência de normas reguladoras com suas interpretações. Em meio às queixas dos parlamentares, há vozes isoladas, como a do senador Pedro Simon (PMDB), que fazem uma análise crítica da lacuna deixada pelo Legislativo. - Não tenho nenhuma dúvida de que o Supremo esteja invadindo área do Poder Legislativo. Só que não temos autoridade para falar, porque são matérias da maior urgência que temos nos recusado a votar. ( fabiano.costa@zerohora.com.br )FABIANO COSTAParlamentares de toga Desde 2004, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) têm decidido sobre importantes matérias políticas para suprir lacunas do Legislativo. Abril de 2004 - TSE extingue 8,8 mil das 60.311 vagas em câmaras municipais existentes no país. Março de 2006 - STF decide que os partidos sigam nos Estados as mesmas alianças articuladas para a campanha presidencial. Dezembro de 2006 - Os ministros do STF suspendem a cláusula de barreira, que limita o acesso de legendas inexpressivas ao Fundo Partidário. Março de 2007 - TSE emite parecer indicando que os mandatos eletivos não pertencem aos parlamentares, e sim aos partidos. Outubro de 2007 - Supremo concorda com decisão de março do TSE determinando que os partidos, e não os políticos eleitos, são os donos de seus mandatos. - TSE amplia fidelidade partidária ao afirmar que também os mandatos dos cargos majoritários são dos partidos. - STF regra greve de servidores públicos.