Operação Satiagraha:afastamento dos Delegados da PF, Protógenes Queiroz, Karina Murakami Souza e Carlos Eduardo Pelegrini Magro

17 Jul 2008

SITE DA UOL FOLHA ON LINE 17/07/2008 - 16h55 GABRIELA GUERREIRO da Folha Online, em Brasília A Polícia Federal decidiu divulgar trechos do áudio da gravação do encontro da cúpula da direção-geral da instituição, na última segunda-feira, em São Paulo, que discutiu o afastamento dos delegados da Operação Satiagraha Protógenes Queiroz, Karina Murakami Souza e Carlos Eduardo Pelegrini Magro. Os trechos repassados pela PF somam pouco mais de quatro minutos e foram editados. A PF não divulgou a íntegra do áudio da reunião, que durou quase 3 horas. Inicialmente, a PF havia informado que não divulgaria as gravações. Mas voltou atrás depois de analisar o áudio. A Folha Online apurou que a PF considerou que havia trechos da gravação que poderiam ser divulgados por esclarecer a saída de Protógenes das investigações. As gravações foram divididas em três trechos. De acordo com a PF, são trechos aleatórios e editados pela instituição. Os áudios contêm as vozes de Protógenes, do diretor de combate ao crime organizado da PF de Brasília, Roberto Troncon Filho e o superintendente em São Paulo, Leandro Coimbra, e outros seis delegados federais. Num dos trechos, Protógenes afirma que não pretende reassumir o inquérito nem depois de concluir o curso que fará --motivo de seu afastamento. A decisão de divulgar os trechos da gravação foi tomada durante reunião nesta quinta-feira entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o diretor-interino da Polícia Federal, Romero Menezes --esse último substitui o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa, que está em férias--, apurou a Folha Online. A reunião foi convocada extra-agenda oficial do presidente e ocorreu no momento em que o presidente pressiona para que o delegado Protógenes Queiroz continue no comando da operação. Ontem, Lula cobrou de Protógenes a permanência na Operação Satiagraha e explicações sobre as insinuações de que foi pressionado a deixar a ação policial. Segundo o presidente, o delegado tem obrigação moral de continuar no caso. "Moralmente esse cidadão [Protógenes] tem de continuar no caso até terminar esse relatório e entregar ao Ministério Público. A não ser que ele não queira. O que não pode é passar insinuações", afirmou Lula, após cerimônia no Palácio do Planalto. "Vender a idéia de que foi afastado é no mínimo de má fé. Não sei se ele falou ou não. Eu li isso hoje", afirmou. Tarso disse que o delegado saiu por sua própria iniciativa e disse ser favorável à sua permanência no comando das investigações. "O delegado só não ficou fazendo o inquérito porque não quis. Manifestou em diálogo com superiores a sua vontade de sair. A saída do delegado é uma iniciativa dele. Não há nenhum tipo de iniciativa dos diretores da Polícia Federal, dos seus superiores, que determinassem a saída dele. Até esta saída dele, na minha opinião, não é conveniente", afirmou Tarso. Aos amigos, Protógenes afirmou ter se sentido enfraquecido depois que Paulo Lacerda, ex-diretor da PF, deixou a polícia para assumir a Abin (Agência Brasileira de Inteligência). Reportagem publicada hoje pela Folha mostra que a saída de Protógenes provocou um racha na Polícia Federal. Em nota oficial divulgada nesta quarta-feira, a PF nega a versão de que o Queiroz teria sido "forçado" a se afastar do comando das investigações. A PF sustenta que o delegado pediu, em maio, para ser matriculado no curso superior da instituição que terá início do dia 21. Por este motivo, o delegado teve que se afastar da operação. O delegado teria sugerido continuar nas investigações aos "sábados e domingos" para freqüentar o curso nos demais dias da semana, mas o pedido não foi acatado pelos diretores da PF. Veja abaixo íntegras dos trechos divulgados: Primeira parte Protógenes: "Eu não preciso nem falar em relação ao doutor Troncon. [..] Eu devo praticamente 100% da execução dessa operação a dois homens de bem dessa Polícia Federal. Primeiramente eu destaco doutor Troncon. Em segundo, o doutor Leandro. Em terceiro, como coadjuvante dos dois, eu não poderia me esquecer aqui também do doutor Luiz Fernando Corrêa. Ele era sabedor dessa operação e correu tudo bem. Na minha avaliação, tirando os erros que a gente está avaliando aqui hoje, que é uma avaliação de erro para nós corrigirmos e nos policiarmos. Houve a presença da imprensa aqui em São Paulo, houve. Falhou, falhou. Quem falhou? O Queiroz falhou porque o doutor Troncon me depositou e eu firmei compromisso com ele, mas falhou ao meu controle." Terceira parte Protógenes: [...] E até mesmo depois da academia eu não pretendo. A minha proposta é: eu fico até o final da operação, porque eu criei um problemas para os meus colegas delegados, criei um grande problema, e eu acredito que para você também, e a minha proposta é essa. É permanecer a minha vinculação no seu gabinete à sua disposição até o final dos trabalhos, pra não ficar aquela pecha de que Brasília vem fazer operação nos Estados e deixa no meio do caminho. As minhas nunca ficaram no meio do caminho. As minhas nunca ficaram. E, a exemplo dessa, não vai ficar. Só que com um diferencial. Eu não vou estar presidindo, eu não pretendo presidir nenhuma investigação. Aí ficaria uma coisa, um trabalho, coletando dados." Troncon: "Se eventualmente, dentro do desdobramento natural desse inquérito que você instaurou, se você concluir antes desse período de você ir pra academia, sem nenhum problema. Agora, se não conseguir, dentro da melhor técnica, se falar não, se requer mais tempo, requer maior análise, aí a gente passa pra um dos colegas."

FONTE: www.uol.com.br