Queda da arrecadação reflete crise, desonerações e má gestão
A queda na arrecadação de tributos nos últimos meses reflete a crise mundial, a política anticíclica do governo e a má gestão da Receita Federal, afirmou nesta quarta-feira (13) o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas e ex-secretário adjunto de Planejamento. Por causa da queda da arrecadação, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, decidiu, na semana passada, demitir a secretária da Receita, Lina Vieira. "A expectativa é que a substituição (de Lina) possa trazer nova luz a resultados", disse o economista, em entrevista ao "AE Broadcast Ao Vivo".
De acordo com matéria veiculada hoje no jornal "O Globo", a arrecadação deve cair pelo oitavo mês consecutivo em junho, com recuo ao redor de 5,5% a 6% em comparação com junho de 2008, e isso teria contribuído para que Lina perdesse o cargo. Em maio, a arrecadação ficou em R$ 49,835 bilhões. O resultado da arrecadação de junho será divulgado na quinta-feira, dia 16.Velloso disse que com o fim da redução ou isenção de IPI para alguns setores a arrecadação deve melhorar. "A arrecadação deve crescer e a própria economia deve começar a mostrar melhores resultados. Diria que 2010 certamente será um ano melhor, até porque a base de comparação será com um ano ruim."
O economista lembrou que o superávit primário está sendo "fortemente afetado" pela crise e ainda é difícil prever quando se dará a "virada" e portanto, é provável que o governo não consiga cumprir a meta de superávit primário de 2,5% para este ano. "Há queda de arrecadação forte e os gastos estão subindo acima da expectativa. Mas é possível que em 2010 o superávit volte a subir", observou.
Velloso disse que o governo tem agido "na base de reagir a pressões" de vários setores da economia e que isso pode não ser tão bom para a economia no médio e longo prazo. "Preferia que o governo tivesse um plano mais bem elaborado de política anticíclica, como um programa de investimentos para alavancar o setor privado. Um plano que permitisse uma retomada mais sólida da economia, baseada em investimentos. E quanto aos investimentos públicos, já deveriam estar olhando para isso com mais cuidado há muito tempo", afirmou.O economista, no entanto, alertou que muitos gastos que estão sendo feitos agora, como aumento do salário mínimo, acabarão herdados pelo próximo governo e poderão atrapalhar o crescimento sustentado do País nos próximos anos. "O próximo governo, seja ele qual for, vai herdar uma bomba de efeito retardado, teremos um novo congestionamento de gastos, e o resultado dramático disso pode ser ter de subir os juros".
Segundo ele, o País se acostumou a ter juro mais baixo, mas "o BC pode ter de abrir mão do juro de 1 dígito mais adiante e voltar a ocupar a posição de carrasco. Pode ser até em 2010, mas é mais provável que seja em 2011", alertou.
Raul Velloso disse ainda não acreditar em reforma tributária neste governo e nem num futuro próximo. "Vamos ter de esperar uma nova fase de bonança. Tivemos essa oportunidade entre 2002 e 2008 e não a fizemos. Se a reforma já era algo distante, agora está mais distante ainda do mundo real."