Governo mantém Orçamento sem cortes

Fonte Valor Econômico
21 Jul 2009

Apesar da queda na arrecadação de impostos por causa da crise, Planejamento mantém previsão de gastos para 2009

 

Bernardo chegou a dizer que crise forçaria corte; previsão de reajuste da Previdência em 5,9% para benefícios acima do mínimo é mantida

 

Ao contrário do que chegou a prever o ministro Paulo Bernardo (Planejamento), o governo optou por manter o Orçamento de 2009 sem cortes adicionais de gastos, mesmo com a forte queda na arrecadação projetada para este ano.

 

A decisão -que consta da reavaliação do Orçamento deste ano, divulgada ontem- ocorre após artifício que permitiu ao governo reduzir seu esforço fiscal (o chamado superávit primário), desconsiderando gastos com investimentos.

 

"A revisão das estimativas das receitas primárias e das despesas obrigatórias não indica a necessidade nem de limitação nem de ampliação em relação à avaliação anterior", diz a nota divulgada pelo Ministério do Planejamento.

 

Havia expectativa em torno desse relatório por causa das sucessivas quedas na arrecadação, que somam 7% somente no primeiro semestre. Isso em razão da retração na economia neste início de ano.

 

Bernardo chegou a dizer que essa situação obrigaria o governo a fazer novos cortes. Dias depois, com a decisão de mudar a fórmula de cálculo dos gastos públicos, desconsiderando despesas com projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) na hora de avaliar a performance fiscal do governo, os cortes esperados viraram "pequenos ajustes".

 

Nos cálculos divulgados ontem, a situação ficou ainda melhor para o governo, dispensando cortes. Haverá uma queda nas receitas líquidas - dinheiro que sobra no caixa depois dos repasses a Estados e municípios - de R$ 1,88 bilhão. No entanto, espera-se que uma parte dessa perda seja compensada pela redução de R$ 406 milhões na previsão das despesas obrigatórias.

Esse ganho, na realidade, virá de reestimativa de despesas com subsídios a empréstimos, e não de redução de gastos administrativos ou investimentos.

 

Outra parte será compensada pela diminuição de R$ 1,3 bilhão no déficit esperado para a Previdência em 2009, que deve ficar em R$ 40,8 bilhões.

 

"Apesar da frustração de grande parte das receitas previstas até o final do ano, também há previsão de redução em determinadas despesas obrigatórias, assim como melhora na estimativa do déficit do Regime Geral da Previdência Social", diz o documento do ministério.A receita total do governo deverá ficar R$ 3,26 bilhões abaixo do previsto em maio. Somente na arrecadação administrada pela Receita Federal, serão R$ 7,3 bilhões a menos.

 

Nas receitas não administradas, no entanto, está previsto um ingresso extra de R$ 4,1 bilhões. A maior parte do dinheiro (R$ 3 bilhões) virá de dividendos pagos pelas empresas nas quais o governo tem participação, como BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.Outra parte da queda na arrecadação será compensada pela redução do repasse federal a Estados e municípios em R$ 1,38 bilhão.

 

PIB de 1%

 

No decreto divulgado ontem, foi mantida a previsão de reajuste da Previdência em 5,92% para os benefícios acima do salário mínimo e a estimativa de crescimento da economia em 2009 em 1%.

 

Houve aumento na previsão para o IPCA (índice oficial de inflação), de 4,3% para 4,42%. Já o IGP-DI caiu de 2,01% para 1,35%. A estimativa para a taxa básica de juros (Selic) média no ano passou de 10,25% para 9,98%. Para o dólar, recuou de R$ 2,23 para R$ 2,08.

 

"A projeção relativa à inflação foi ligeiramente elevada para 4,42%, abaixo da meta de inflação perseguida pela política monetária, que é de 4,5%, e se mostra compatível com a trajetória para esse índice observada até o momento", diz a nota.

 

A nova projeção para as receitas administradas pelo fisco em 2009 ficou em R$ 465,8 bilhões. Isso representa uma frustração de quase R$ 60 bilhões em relação ao valor aprovado pelo Congresso na lei orçamentária.